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Sou Psicopedagoga e Pós - graduada em Gestão Escolar,estou na direção da Creche Municipal Tia Didi. Onde procuro junto com minha equipe oferecer uma Educação Infantil de qualidade as nossas crianças .

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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Dislexia


Jaime Zorzi (Revista Aprendizagem, 1ª edição.)

"Ler e escrever corresponde a fatores fundamentais para a garantia do desenvolvimento escolar, uma vez que é sobre tais capacidades que se assentarão as futuras aprendizagens. Qualquer dificuldade no processo de aquisição da escrita pode privar a criança de ter acesso a uma série de conhecimentos e, conseqüentemente, prejudicar sua evolução escolar,. Isso acaba por causar danos evidentes que também se manifestarão, tanto no plano afetivo quanto social."

Uma diversidade de causas têm sido descritas por aqueles que se dedicam a estudar tal problema. Tradicionalmente, algumas das razões mais amplamente divulgadas dizem respeito a déficits visuais, auditivos e neurológicos, ao domínio pouco desenvolvido de fala e da linguagem, a problemas gerais de saúde, à imaturidade, a fatores emocionais, familiares e sociais. Atualmente, têm-se apontado também para a questão da inadequação de certos métodos escolares e da postura pouco estimulante de muitos professores.

Entretanto, e de forma até mesmo desafiadora para nossa compreensão, diversas crianças consideradas como portadoras de um distúrbio de leitura-escrita não apresentam, aparentemente, relação com nenhuma das causas acima citadas. Elas possuiriam, teoricamente, todos aqueles requisitos tidos como necessários para uma aprendizagem favorável: boas condições familiares, sociais e econômicas, oportunidades escolares adequadas, nível normal de inteligência, ausência de comprometimentos físicos e/ou emocionais significativos. Apesar de apresentarem uma situação desse tipo, tais crianças enfrentam dificuldades para dominar a escrita e a leitura, sem que nenhuma das causas tradicionalmente aceitas possa ser seguramente relacionada ao seu problema.

O termo “dislexia”, ou “dislexia do desenvolvimento”, tem sido tradicionalmente empregado para procurar descrever aquelas crianças que, mesmo sem motivos mais evidentes, não conseguem se desenvolver, sem maiores problemas, no que diz respeito ao aprendizado da leitura-escrita. Embora inicialmente tenha sido empregada para dar conta dos problemas de leitura, tal noção acabou englobando também problemas relativos à escrita, principalmente em relação à ortografia. Dislexia refere-se, portanto, às inabilidades ou dificuldades para o aprendizado da leitura-escrita, tendo como possível causa uma disfunção de áreas cerebrais responsáveis por habilidades necessárias para que tal aprendizagem possa ocorrer de modo satisfatório.

O uso do termo “dislexia” tem, ao longo do tempo, gerado muita confusão e controvérsia. Os primeiros pesquisadores do problema começaram empregando expressões como cegueira verbal, estrefossimbolia, legastenia, entre outros conceitos, para se referirem a diversas alterações observadas quanto ao domínio da leitura-escrita. Porém, definida em termos muito genéricos, a noção de dislexia sofreu uma supergeneralização, aplicando-se, muitas vezes, a toda e qualquer alteração observada nas crianças, quaisquer que sejam as causas ou características de tais alterações.

Distúrbios de aprendizagem de diversas ordens, que podem afetar a leitura e a escrita de diferentes maneiras, passaram a ser sinônimos de dislexia. Porém, parece ter passado despercebido que, se por um lado ela pode ser considerada como um tipo particular de distúrbio de aprendizagem, por outro, estes não se limitam à dislexia.

Do ponto de vista científico, falta um consenso ou uma compreensão mais detalhada do que pode vir a ser, de fato, a dislexia. Temos encontrado definições que abrangem, desde problemas específicos de inversão da ordem das letras dentro de uma palavra, até grandes dificuldades para compreender e memorizar um texto lido.

No Brasil, infelizmente, não conseguimos fugir de tal tendência supergeneralizadora. À medida que essa noção se popularizou e começou a ser empregada nas escolas, e mesmo em termos de conhecimento de senso comum, a dislexia passou a ser considerada, com muita freqüência, como uma “doença”. Pior do que isso, ela costuma ser vista como um mal incurável, sem solução. Os comportamentos dos disléxicos tendem a ser analisados em função do problema que apresentam, levando-os a serem tratados, muitas vezes, como incapazes. E essa é uma das piores atitudes que pode haver em relação a alguém que, por algum motivo, vem apresentando, especificamente, uma dificuldade em maior ou menor grau para assimilar ou dominar o sistema de escrita. Além do mais, tais dificuldades podem ser, via de regra, superadas ou minimizadas a partir de trabalhos planejados e desenvolvidos adequadamente, principalmente quando se conta com a participação e colaboração da escola.

Podemos observar que, quanto mais avançam os conhecimentos acerca dos processos envolvidos na aquisição da leitura-escrita, assim como a respeito das condições que são desfavoráveis para tal evolução, maior é a precisão com que a noção de dislexia tem sido empregada. Temos aprendido que é possível analisar, na história da criança, na avaliação clínica, assim como nas circunstâncias atuais de sua vida, uma somatória de fatores que podem ter uma forte correlação com as limitações apresentadas, e assim trabalhar no sentido de eliminá-las ou minimizá-las. Para tanto, a compreensão do que é a dislexia e o estabelecimento de uma parceria sólida entre escola, criança, família e especialista, constituem a base para as melhoras que devem ser buscadas. *

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